O nosso corpo e mente são regidos pelo equilíbrio, que na psicanálise é chamado de homeostase. Toda vez que algo desagradável acontece, nos desequilibramos e somos impulsionados a agir para recuperar a paz interior.
Dentro de nós existem três moradores: o id, o ego e o superego. O id é quem nos envia os impulsos e nos motiva a agir para recuperar a homeostase. O ego é o nosso “eu” que toma as decisões e o superego é o “censor” que age de acordo com os valores que introjetamos ao longo da vida.
Quando nos deparamos com o desagradável, sempre nos defendemos. O objetivo da defesa é reduzir ou eliminar qualquer ameaça ou excitação que nos coloque em perigo, atendendo ao impulso enviado pelo id. Das ameaças externas até podemos fugir, mas isso é impossível para as ameaças internas.
Acontece que o id é puro prazer e o impulso que ele nos envia é irreprimível. Quando nos sentimos magoados ou ofendidos, por exemplo, ele já acende a luz vermelha, envia o impulso e temos a opção de resolver ou reprimir. Quando reprimimos criamos o chamado recalque. E fazemos de tudo para defender este conteúdo.
A defesa é necessária para que possamos muitas vezes nos proteger do que ainda não estamos preparados para trabalhar, mas não podemos viver dependentes dela. Evoluir é não precisar mais se defender.
Recalcamos quando não somos honestos com o que queremos, com o que falamos, com o que sentimos, agindo para agradar o outro ou para manter a nossa segurança. Recalcamos mágoas, culpas, ciúmes, desejos, tristezas e até amor. Guardamos tudo lá dentro bem escondido e gastamos uma energia absurda para não deixar que isso volte à superfície, utilizando os mecanismos de defesa.
Existem diversos mecanismos de defesa, vou dar alguns exemplos abaixo:
Negação: no fundo sabemos de coisas que nos desagradam mas negamos, fingimos que está tudo bem só para manter tudo como está (nos acomodamos).
Idealização: colocamos nossa felicidade fora, idealizando as pessoas, coisas e sistemas e exigindo delas o que não podem dar. Fechamos os olhos para a realidade e criamos um mundo de ilusão.
Racionalização: fazemos algo que sabemos não ser de acordo com nossos valores, mas depois arranjamos desculpas para justificar o ato.
Intelectualização: deixamos de fazer algo que no fundo sabíamos que era importante e correto e utilizamos de diversas desculpas para nós e para os outros, nos justificando por não ter feito.
Autopunição: não aprendemos a nos perdoar e não percebemos que somos humanos e imperfeitos e passamos a vida toda nos punindo e nos culpando em vez de recomeçar.
Formação reativa: colocamos para fora o inverso do que temos dentro de nós, de forma extremada.
Atuação: agimos com falsidade e mentira.
Esses são apenas alguns, mas qual seria a defesa saudável?
A defesa saudável engloba a elaboração e a perlaboração. Elaborar é utilizar a razão para resolver os conflitos de forma equilibrada no momento em que ele acontece, entendendo que o outro dá o que pode e respeitando os limites de cada um, inclusive o nosso. Perlaboração é utilizar a elaboração para algo que já aconteceu.
Ás vezes não estamos prontos para lidar com os nossos problemas no exato momento em que acontecem. Precisamos de um tempo para pensar, colocar a cabeça no lugar e depois resolver. O que NÃO podemos fazer é fingir que não sentimos e enviarmos todo este desagradável para dentro de nós, cultivando-o. No fim, ele começa a ficar tão grande que toma conta da nossa vida, destruindo a nossa autoestima e nos guiando num caminho de frustrações, dores e doenças.
Faça o melhor que puder, compreenda que tudo está certo. Não guarde mágoas, rancor, culpas, tristezas. A vida é maravilhosa quando começamos a perceber que tudo tem um motivo para ser e que todos estes motivos nos fazem evoluir.
Seja você mesmo. Não se permita ser diferente, pois não vale a pena. Lá na frente perceberá que te ama verdadeiramente APENAS aquele que ama seu verdadeiro eu.
Uma ótima semana de elaboração e perlaboração para todos!
Meditação
17. Tanto quanto possível, sem abrir mão dos seus ideais de autorrealização, esteja de bem com todas as pessoas.