Se apaixone com pelo menos um dos pés no chão

Olá, amigos, que bom estar de volta! A vida está corrida, mas adoro quando consigo achar um tempinho para falar um pouco sobre psicanálise e autoconhecimento. Espero que toda vez que você leia um post algo possa tocar seu coração, e fazer com que reflita e se ame mais, além de começar a amar melhor quem está ao seu lado.

Hoje vou falar um pouco sobre paixão, tema recorrente no consultório. A paixão é uma “coisa”, não é?… uma coisa forte, uma coisa gostosa, uma sensação de levitação, de alegria constante, de necessidade constante do outro. Na paixão vemos tudo lindo, o sol brilha mais, o céu é mais azul, a vida é mais fácil, e é como se tudo de repente começasse a caminhar perfeitamente. O outro é tudo que sonhamos e desejamos a vida toda. O outro é tudo que faltava, o outro é tudo que precisamos. O outro nos faz muito bem, nos dá carinho, faz um sexo maravilhoso, é cuidadoso, preocupado, atencioso. O príncipe ou a princesa dos contos de fadas.

Estar apaixonado é viver sorrindo, é fazer planos, é esperar ansiosamente pelo próximo encontro, é querer estar sempre junto, fazer tudo junto, viver tudo junto. Quando estamos apaixonados, vemos as coisas com mais brilho, os problemas se tornam menores do que são, as pessoas ficam mais bonitas, a vida fica mais leve.

Estar apaixonado é se entregar de corpo e alma, é acreditar que ser feliz é isso, e que é isso que queremos para sempre.

Para sempre… e criamos expectativas…

O problema é que pode demorar anos, mas a paixão tem prazo pra terminar. E aí começam todas as nossas frustrações, decepções e sofrimento. Idealizamos o outro quando estamos apaixonados, só enxergamos o seu lado bom, porque não queremos ver nada além disso. Mas quando a paixão acaba não temos escolhas, teremos que encarar a parte escura da qual nos escondemos. A do outro e a nossa. Sim, a nossa também, porque precisamos do outro para enxergarmos o tanto de sombras que ainda temos que trabalhar.

E aí começam os conflitos. As diferenças de pensamentos, as diferenças de atitudes, de sentimento, pois somos completamente diferentes um do outro, já que somos únicos. Não existe a metade da laranja, não existe a tampa da panela, ninguém nunca vai tampar os buracos do outro, e na paixão temos essa ilusão. Vamos aos poucos conhecendo quem verdadeiramente está ao nosso lado e, às vezes, é tão diferente do que a gente idealizou que nos assusta.

Quer dizer então que não podemos nos apaixonar? De jeito nenhum, devemos sim, mesmo porque é praticamente impossível fugir dela, não é? E o que fazer? Se permitir, sim, viver tudo que tem que viver, receber e dar tudo que tem que dar, mas manter pelo menos um dos pés no chão. Como? Usando a razão para conversar consigo mesmo sobre esse momento ser passageiro e começar a se preparar para o fim. Como? Sendo o mais verdadeiro possível com o outro, o que é extremamente trabalhoso no processo, já que na paixão só mostramos nossas partes boas.

Mas não tem jeito, se não quer sofrer lá na frente, seja verdadeiro, seja você mesmo. E deixe o outro à vontade para fazer o mesmo. Se ame em primeiro lugar, ainda não estamos preparados para agir diferente disso. Saiba a hora de impor limites, use a razão e não deixe a emoção te dominar 100% do tempo. Tome atitudes que possam te preservar lá na frente de um problema maior, seja este psicológico, físico ou material.

Ouça a opinião de pessoas que te amam, não para que tome a decisão baseado no que elas falam, mas deixe o coração aberto para ouvir, e decidir conscientemente como seguir, por você.

Não se iluda, príncipe ou princesa encantados não existem. O que tem do outro lado é um ser humano como você, com defeitos e qualidades, e isso é bom, não é ruim. Após a fase da paixão, entra a fase do verdadeiro amor ou o fim do relacionamento. Começa o período da exposição das diferenças, dos conflitos, das descobertas, das divergências. Se conseguir passar por isso, o amor se mantém. E é o amor que realmente importa, não é? Se superarmos a fase da paixão e seguirmos, aceitando o outro como ele verdadeiramente é, com seu lado bom e ruim, teremos a oportunidade maravilhosa de crescer e evoluir juntos. E muito. E a paixão pode voltar, de forma mais suave e duradoura.

Pense bem, se apaixone, mas não deixe sua vida ser fundada apenas na emoção. Dá pra se apaixonar e usar a razão de vez em quando, é trabalhoso, mas garanto que você não vai se arrepender.

Um grande abraço e até a próxima.

Este post está publicado no site Eu sem Fronteiras (https://bit.ly/2HmikPH)

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