Não confunda individualidade com individualismo!

Olá amigos, desejo um dia cheio de amor e paz para todos nós. Hoje vou falar sobre a diferença entre individualidade e egoísmo no campo amoroso, mas a explicação é válida pra todas as nossas relações.

A linha entre as duas coisas pode ser trabalhosa de definir, e para que saibamos como agir é preciso principalmente ter autoconhecimento, processo trabalhoso que pode ser auxiliado por um terapeuta.

Desde pequenos somos acostumados a trocar, o amor pra gente é uma forma de dar para receber, já falava sobre isso neste texto aqui. O processo de amar é complicado, já que envolve aprender a se amar primeiro para depois aprender a amar o outro. Afinal, como vamos amar o outro, aceitar como ele é, respeitar os seus limites se não conseguimos amar a nós mesmos?

E nessa troca seguem os relacionamentos. A dependência é a base de tudo. A paixão começa assim: tudo é lindo e maravilhoso, ele é o príncipe e ela é a princesa, os dois se completam, e não precisam de nada no mundo além deles mesmos. Só que a paixão tem prazo pra terminar e abre o espaço para a oportunidade de aprender a amar. Em alguns casos a paixão e dependência duram anos, chegam até ao casamento, mas não tem jeito, uma hora ela acaba.

Aos poucos um dos dois vai se sufocar, um dos dois vai sentir que precisa respirar, que precisa do espaço, e começar a perceber que aquela dependência que tinha e o completava já não o completa mais. E vai sofrer muito. Um dos dois vai perceber que o príncipe não é tão príncipe assim e pode até ser sapo, e o mesmo para a princesa. Os defeitos começam a aparecer, as máscaras a cair, e começa a surgir o ser humano real e aquilo o destrói. As idealizações criadas, o amor eterno, o desejo de estar sempre junto, a certeza de que ele ou ela era a pessoa perfeita, tudo vai por água abaixo.

Esse que acordou inicia uma mudança, começa a tomar decisões e atitudes que não tomava antes, às vezes se isola, se afasta, outras acaba agredindo, como se o outro fosse o culpado pela escolha que ele fez. E começam os problemas que podem seguir por dois caminhos: separação ou, como dizia o psiquiatra Dr. Alfredo Simonetti no livro O nó e o laço, “o novo amor”.

E onde entra a individualidade e o individualismo aí?

O que acordou passa a fazer coisas que não fazia antes, a querer coisas que não queria antes, a exigir liberdade, espaço, tempo para ele. Quer sair mais com os amigos, ler mais, estudar mais, fazer um exercício, ir pra igreja, meditar, e outras milhões de coisas, sozinho. Pode até pensar em separação num primeiro momento, julgando e culpando o outro pela vida infeliz que tem e por ele não ter “cumprido tudo que prometeu” o “fazendo feliz”. O problema é que ninguém faz ninguém feliz, a felicidade só pode ser obtida de dentro pra fora. E a escolha é individual.

E mais e mais problemas pela frente: decepções, resistências, falta de conversa, falta de aceitação, revolta, e a culpa é do outro.

O que acordou quer a sua individualidade, quer seu espaço pra respirar, e isso pode significar encontrar outra pessoa, pode significar apenas poder ser ele mesmo, mas também pode significar um melhor recomeço da relação. O outro, na maioria das vezes, não está preparado para viver essa individualidade, já que os dois sempre viveram no individualismo, apenas pensando em si, apesar de parecer o contrário.

No individualismo não há espaço para o outro, todos os meus desejos têm que ser realizados, tudo que eu dou tenho que receber em troca, a vontade do outro só vale quando ela traz retorno para o que quero. O individualista se coloca como centro do universo, tudo é para ele e tudo acontece com ele e por ele. Ele simplesmente não enxerga o outro, passa por cima se for preciso, agride, e age única e exclusivamente para que seus anseios de segurança e reconhecimento sejam atendidos. E a paixão é assim, só que com dois individualistas. Por um tempo dá certo, enquanto um dá o que o outro quer, mas de repente alguém acorda.

A individualidade começa nesse acordar. Quando percebemos que existe vida sim fora do outro, e que precisamos dessa vida mesmo tendo ele ao nosso lado. Começamos a perceber que o amor é mais que isso, o amor precisa de respeito, de espaço, de saudade. Na individualidade não deixamos de amar ou nos colocar no lugar do outro, aprendemos que precisamos nos amar diferente e amar diferente. Aprendemos a amar a individualidade do outro também, passamos a entender que cada um precisa fazer o que gosta também fora da relação. Que todos nós precisamos de um tempo com os amigos, com o trabalho, com o nosso hobby, com o nosso livro, com nós mesmos, e isso não significa não se relacionar com outro, não significa não amar.

Quando cada casal consegue trabalhar a individualidade, tendo sua vida também fora dessa relação, o amor começa a nascer. A confiança se fortalece, o respeito, e crescemos muito como seres humanos, saindo da posse e começando a amar e aceitar o outro como ele é, mesmo que não seja como idealizamos no começo.

É importantíssimo cada um ter o que contar quando se encontra, quando fica tudo muito junto e misturado vai perdendo a graça, as “pessoas” vão se apagando, o comodismo toma conta e as frustrações também. E daqui a pouco você está vivendo apenas pelo outro, e não mais por você. Isso não é justo com nenhum dos dois.

Pare e pense, avalie como você anda se relacionando. Ninguém é de ninguém e ninguém é perfeito, o amor é possível, mas é um processo trabalhoso que vale muito a pena!

Um beijo no coração e até a próxima!

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